Estava tudo diferente. Tudo o que eu tomava como garantido, tudo o que eu sentia, tudo o que eu me lembrava… mudou. Não. Estou a mentir. Não foi o mundo que mudou. Fui eu. Se há uns dias atrás me dissessem que isto me ia acontecer, eu teria rido e dito ”Andas a ver demasiados filmes de vampiros!”.
Bem, não foi nisso que me tornei… mas no mais parecido possível.
Imortal.
Sim, ainda posso morrer, se me acertarem no meu chakra mais fraco, por assim dizer. Mas mesmo assim. No mais parecido possível.
O que é que tu farias se te tornasses imortal? Davas a volta ao mundo? Conquistavas aquele rapaz? Serias a maior estrela rock do planeta? Lamento desapontar, mas dinheiro, fama e glória não vêm obrigatoriamente no pacote da imortalidade. Tu continuas tu… Mas diferente. Tudo, tudo diferente.
Quando ele me disse… depois de tudo… como podia não acreditar? Fazia sentido. Eu fiquei mais alta, mais bonita, consigo saber a vida inteira de uma pessoa com um simples toque, oiço pensamentos das pessoas à minha volta e vejo cores à volta de toda a gente. Talvez não apenas cores, são auras e reflectem o que as pessoas estão a sentir. E, já que estamos a ser específicos, não de toda a gente, eu não vejo a dele. Nem oiço os pensamentos dele. É a única pessoa que consegue silenciar o ruído e as manifestações de energia que invadem a minha cabeça.
Imortal.
Noutra vida eu teria achado isso espectacular. Agora nesta… muito sinceramente, já estive mais longe de dar em louca. Não que isso fosse muito bom, “eternidade” e “loucura” nunca soou muito bem junto.
Mas ele tornou tudo mais… tolerável. Mais do que isso, tornou tudo melhor, mesmo sem mudar nada ao mesmo tempo. Eu confio mais nele do que devia. Conheço-o há tão pouco tempo mas ao mesmo tempo… O que dizem de vidas passadas, caminhos cruzados, de destino… É mesmo verdade. Com tudo isto, só posso acreditar. Ele fez-me acreditar.
Imortal.
Pensava que estava perdida. Pensava que não tinha futuro. Depois do acidente, só queria desaparecer. “Porque fiquei eu?”, “Porque não posso estar com eles?”, “O que se passa comigo?”… Claro que não ajudava nada o processo de aceitação a minha irmã mais nova (e… morta) aparecer para falar. Mas eu não queria aceitar. Não, não havia nada a aceitar. Ela ainda está comigo, certo?
Não estava, não totalmente. Os pais já tinham passado a ponte e era uma questão de tempo até que ela me abandonasse também. Eu estava errada, como sempre. Ela não podia ficar. Eu não estava perdida, eu encontrava-me no plano dos vivos, aqui mesmo. E eu tinha futuro. Mais do que isso, eu tinha toda uma eternidade. Ao lado dele. Ao lado do ser perfeito que ele é.
Imortal.
Como em tudo, teria de ter amigos, inimigos, pessoas que até eram minhas amigas mas que depois… Ah, parece que nunca tenho sossego! Preocupação atrás de preocupação, erro atrás de erro, armadilhas atrás de armadilhas. Nem a magia mostrou ser um caminho viável, e eu que o diga: ainda estou a pagar por isso. Porque é que o mesmo destino que nos juntou também quis pôr tanta pedra no nosso caminho? Juro, com tanta pedra e deste tamanho eu podia mandar construir um castelo.
Eu podia construí-lo, sabem? Não neste plano, não se eu não quisesse ficar no manicómio ou sujeita a testes como um rato de laboratório para o resto da eternidade, mas num lugar especial. Uma misteriosa dimensão à qual agora tenho acesso por ter mudado. Por ser… assim.
Imortal.
Summerland: para muitos, o chamado “limbo” ou mesmo “entre mundos”. O lugar onde tudo o que desejas pode ser criado apenas através do pensamento e onde nada te pode magoar. O lugar de convívio de almas que ainda não atravessaram a ponte. O sítio mágico cheio de sabedoria e fascinante que ele me apresentou. Que não seria tão fantástico se não fosse ele a explicar-me como é. Que não encanta se ele estiver noutro lugar.
Tudo gira à volta dele. É sempre ele. Foi ele que mudou a minha vida. É ele que eu sempre amei, mesmo sem saber. Mesmo antes de nascer. Será ele que fará o meu mundo um lugar melhor. Para sempre.
Imortalidade nunca soou melhor. O que fiz eu para o merecer? Ele é perfeito. Demasiado perfeito. Ele diz que também me ama e eu adoro ouvi-lo dizer, mas parece-me sempre bom demais para ser verdade. Talvez todo este atrito que surge sempre entre nós como… eu não sei, como alguém tentar destruir-nos volta e meia seja o que me traz à Terra. Mesmo sem o poder tocar, eu sinto-o. Isto só me faz acreditar que é verdade. Eu amo-o e ele ama-me.
Vamos superar tudo. Tudo vai valer a pena por ficarmos eternamente juntos, como antes não pudemos ficar, finalmente. Porque ele é assim… especial. Encantador e exótico. Simplesmente ele. Meu. Damen.
Autora: Diana Albuquerque
Inspirada na Saga «Os Imortais» de Alyson Nöel