A vida magoa, as pessoas magoam, os momentos são de plástico e a úncia coisa real com que realmente andas é o coração... Não há mundo perfeito, não há flores e corações, não hão arco-íris em todos os cantos nem tão pouco potes de ouro nos seus térmitos. Acorda então, Daniela!
As desilusões existem, os sorrisos amarelos também (e sem tabaco ou café ou o raio que o parta!), as palavras sem sentido são inúmeras, as ternuras e os guinchos de histeria conjuntos deixam de parte esse "todo" imaginado...
Queria simplesmente ser outra vez criança, queria simplesmente refugiar-me na lama, a fazer bolos na terra. Queria falar sozinha a imaginar a vizinha, a costureira, a aventureira Jones. Queria sorrir sem sentido para um trapo de roupa e vestir-me com ele, sem pensar no amanhã, a imaginar uma passerelle de aplausos à minha volta, quando o que me rodeavam era peluches. E por falar neles, queria prendê-los novamente a mim durante as noites, queria dizer-lhes "Boa Noite" e acarinhá-los como filhos. Queria ter outra vez Nenucos. Porque, ao menos, nessa altura o mundo tinha os arco íris, e as borbuletas, e o cheiro de vida que falta ao mundo semi e mesmo adulto.
Estou farta, basta mesmo, destas ratoeiras das pessoas... ninguém muda, tudo é assim, será assim, vai ser assim. As pessoas são assim. Tudo é intrínseco. O que acontece é que tudo cresce (salvo seja!), e o crescimento, as superfícies que nos amparam são tão sujas por vezes que nos arranham, que nos esmagam a pele, raspam-na, e o sague é brotado... E vermelho, corre esse chão, chão de tristezas, amarguras e desprezos que, tal vírus raivosos, infectam.
Porque não é antes jorrado esse sangue tão rubro pelos fios que nos ligam? Porque não deixamos simplesmente as borbuletas voas, porque falamos e arranhamos a garganta e os corações com as calúnias, porque existem palavras e não só gestos? Sim, aqui a Daniela é burra, e precisa de resposta... Divina, talvez, já que o mundo cá em baixo anda doido e infectado.
Ó, mundo, mundo... muda. Volta a ser criança comigo. Volta a deixar os olhos brilhar pela flor mais bontia, volta a dar as mãos aos amigos, volta a correr à chuva e a saltar nas poças comigo. Dá-me um abraço, e vamos adormecer com um mundo colorido, melhor que este, bem melhor.
Autora: Daniela Tavares
Inspirada na Saga «Os Imortais» de Alyson Nöel