«Às vezes é assim»
Ter problemas é um problema. Uns são mais graves que outros. Outros nem tanto. Mas quando a gravidade é colossal ao ponto de tirar a vontade de viver o remédio tem que se encontrar rapidamente. E por muito difícil que seja encontrar a solução ideal é crucial que se o faça, procurando apoio onde quer que ele esteja, desde que o mesmo faça avançar e tornar mais real a sobrevivência. Porque não há razão que justifique a partida de alguém deste mundo. Nem guerras, nem pobreza, nem mesmo a incredibilidade do amor.
Todos somos humanos e sabemos o que tais problemas significam, mas por vezes não porque surgem. Há muitos anos conheci uma pessoa que, tal como eu, tinha sonhos, ambições e virtudes no seu âmago. Vi-a crescer e ela viu-me a mim, também. A maturidade da sua sanidade cresceu, trazendo-lhe algo que ninguém compreendia. A necessidade do suicídio. O porquê jamais se soube, apenas se conhecia a força e a persistência desse desejo, que aumentava e aumentava dia após dia. No seio de uma família feliz, rodeada de bons amigos de longa data, essa pessoa, tal como Ever, sentia-se a anormalidade perfeita quando devia sentir-se honrada da sua vida.
E algum tempo passou. Pouco, não obstante suficiente para mudar completamente as suas ideias. A ela devolveu-lhe a felicidade, e como amigo, fiquei igualmente feliz por ver que a sua antiga intenção tinha desaparecido completamente. Pelo contrário, foi esse mesmo momento que me traiu amargamente. O que a tornou afortunada a mim deu-me desalento. O que ela tinha vivido experienciava eu num começo tortuoso. E saber que a solução não residia nem perto nem longe trouxe-me um desespero infindável. Deixei de ter alma. O meu corpo vagueava pelas ruas como um fantoche controlado pela maldade. O calor não me confortava nem o frio me arrepiava. Alistava-me ao exército da tenebrosidade voluntariamente, e só as lágrimas aliviavam a mágoa que insistia em permanecer dentro de mim. O que ela permanentemente sentia tinha passado para o meu ser.
Consegui finalmente perceber aquilo que a estava a assolar. Percebi o que Alyson Noël tentava transmitir com as situações vividas por Ever. A sua história deu-me a entender que a vida tem desilusões, coisas más às quais é impossível escapar. Nem a “Eternidade” pode curar certas dores, apenas arrastá-las indefinidamente e tornando-as menos nítidas, o que é parcialmente bom. Mesmo assim, não temos o dom de Ever. Caso o tivéssemos, uma eternidade não chegaria para apagar o sofrimento. Nem duas, nem sequer três. O tempo que nos é dado é bastante mais curto, e não deve ser passado, por isso mesmo, a pensar em dolências e argumentos que sustentam a melancolia.
Damen era o suporte de Ever, o meu ainda não apareceu. Enquanto nada acontece, vou tentar abrigar uma pontinha de alegria e recomeçar de novo. Às vezes é assim. Não nos-é possível escolher o nosso destino ou aquilo que queremos. Tal facto pode trazer-nos coisas negativas, mas também positivas e abrir os nossos olhos à realidade da existência. Eu sei, tenho a certeza, que há coisas pelas quais vale a pena viver, e Ever também o sabia, decerto, uma vez que nunca desistiu de si mesma. Confio nela, ou na minha esperança.
Autora: Cláudia Sofia Carvalho
Inspirada na Saga «Os Imortais» de Alyson Nöel