«O Monte dos Vendavais», ou por questões autorais uma editora portuguesa chamou-lhe «O Monte dos Ventos Uivantes», que na realidade é um título mais à letra, mas muito menos poético. Quando ouvia a música da Kate Bush «Wuthering Heights» e no refrão com aqueles agudos de partir os espelhos todos do edificio das Amoreiras, nunca soube o que realmente queria dizer com « Heathcliff, its me, Cathy come home I'm so cold, let me in-a-your window», algo como «Heathclif, sou eu, a Catiazinha voltou para casa, estou com tanto frio, deixa-me entrar pela tua janela». Longe de imaginar que falamos de um amor absolutamente imortal e que embora seja um clássico, só há seis meses atrás numa mega promoção na Fnac, lá abri os cordões à bolsa e me dei ao trabalho de perceber o porquê desta história de amor entre Catherine e Heathcliff continuar a despontar paixões por todo o mundo. Quer dizer, «Romeu e Julieta», até se compreende, Shakespeare um romântico dos sete costados, converteu em puro mel o que poderia ser apenas uma história de duas famílias pavorosas. A questão é que em «O Monte dos Vendavais» o amor entre os protagonista chega a ser absolutamente odioso e mesmo assim, passados tantos anos há foruns de discussão sobre a personalidade supostamente ambígua de Heathcliff ou as culpas que a bela Cathy teria no cartório para que este não fosse um amor de mel, antes de fel.
Emily Brontë, que em termos literários se ficou excusivamente pelo «Monte dos Vendavais», viu editada a primeira versão em 1847. Na altura as críticas não foram famosas e não me espanta. Ora bolas, fazer-se de um vilão o símbolo (porque não dizê-lo algo sensual), numa obra de uma autora absolutamente desconhecida,em pleno século 19, numa Inglaterra conservadora, não cabia na cabeça de ninguém! Heathcliff era mau como as cobras, por vingança comia quem lhe aparecesse à frente, estivesse vivo ou morto, e a grande diferença entre este personagem e Edward de «Crepúsculo», é que a consciência sempre esteve presente na mente do vampiro. Mais, embora «o Deus Grego» da saga de Meyer se considerasse um ser sem alma, facto é que Heathcliff é que agia como um verdadeiro animal selvagem, sem qualquer sentido de humanidade e cuja palavra «alma» nem sequer deveria constar no seu dicionário.
«O Monte dos Vendavais» é uma das obras referidas por Stephanie Meyer, que influenciou uma nova geração de leitores a conhecer o amor nefasto de Cathy e Heathcliff. Ao que parece, e de forma mais discreta, Alyson Nöel optou pelo mesmo livro no primeiro volume da série «Os Imortais», como forma de quebrar o gelo entre um par, Ever e Damen. Em plena sala de aula, o herói romântico pede o livro de Emily Brontë ao alvo do seu desejo, com o argumento de o estudar. Verdade, verdadinha é que a única coisa que estuda é a forma mais arrebatadora de conquistar aquela que há 400 anos tem insistido em entrar na sua existência...imortal. E se a escolha deste livro parece casual, não será certamente, pois no grande clássico da literatura inglesa, mesmo após todo o rancôr que é impresso numa história devastadora, há a imortalidade do casal protagonista...que muitos anos após a sua morte, há nas redondezas quem os veja ou oiça rir. Só na morte Catherine e Heathcliff poderam encontrar a paz para desfrutar do verdadeiro amor...amor esse absolutamente imortal. Só me aborrece que toda a trama seja contada por terceiros, e tenho como certo, que muitos adorariam ter a visão de toda a história por parte do Heathcliff, uma das personagens mais controversas de sempre; heroi romântico ou vilão? Mas quem sou eu, uma pobre mortal, para questionar um livro que hoje é venerado mundialmente e considerado a «obra de arte» de uma autora que na devida altura não foi reconhecida?!
Na série «Os Imortais» resta-me o consolo de saber que tudo é descrito na primeira pessoa, Ever, e que o casal ficará «vivinho da silva», por aquele amor, basicamente até se fartarem um do outro. Mas como falamos de ficção, é claro que serão felizes para toda a eternidade, e não serão fantasmas, que troçam dos mortais, puxando-lhes os cobertores durante a noite ou assustando velhinhas beatas.
Inspirada na Saga «Os Imortais» de Alyson Nöel
Era cool andar esfarrapada, ter olheiras até joelhos, usar eyeliner esborratado e não lavar o cabelo durante uma semana. Assim ser definia a moda em plenos anos 90. O culpado, o estilista Calvin Klein, pródigo criador de campanhas publicitárias impactantes lembrou-se de algo a que vulgarmente se chamaria de "Heroin Chic”. Basicamente era super fixe ter pinta de “drogaminas”, qual arrumador de carros de jornal na mão e com a balela do "destroce, destroce".
Ever, não conheceu esta moda, aliás pelas contas a personagem criada por Alyson Nöel, terá nascido algures quando Kate Moss pousava algo desnuda e deslavada em históricos placards semeados criteriosamente por toda a Nova Iorque. Que Moss gosta de substâncias ilícitas não é novidade, se heroína é uma das suas favoritas, não me parece relevante para o assunto, mas que nesta história há uma "Heroin", e que de chic não tem nada, Ever. Há lá algo de mais heroíco ver a família inteira ser devastada num acidente brutal e por artes mágicas ser a única sobrevivente? Sorte dirão alguns, maldição corrige Ever. O que raio ficaria a fazer neste mundo é algo que ainda irá descobrir com os volumes seguintes da Saga de Nöel. Para já ficam-se por «Eternidade» e o recém lançado em Portugal «Lua Azul».
Semelhanças entre mim enquanto adolescente e a protagonista desta história surreal, o desejo pela morte. Na infância chamavam-me caixa de óculos, na pré adolescência Samantha Fox, na adolescência, baleia fora de água e na idade adulta, simplesmente, estúpida. Ora, a Ever que agora é uma espécie de criatura invisível, quase que ninguém dá por ela, por isso não lhe chamam coisa alguma. Mas como um mal nunca vem só, desde o acidente que tem o que se poderá designar de sensibilidade extra sensorial. Saber o que vai na cabeça de toda a gente não é coisa que alguma vez desejasse, Ever também não se congratula de tal sorte, mas continua a acreditar que um dia, simplesmente vai deixar de respirar para voltar a encontrar os pais.
O que atrai Ever na morte, até se poderá compreender, o que me atraía a mim na idade dela...não faço ideia. Mas sim, gastava cadernos às dúzias com poemas de teor deprimente e na generalidade com um só final, a morte. Até ao dia em que quase a vi a diante os meus olhos. Estava em Borba e só me lembrava que na mercearia do bairro se fartavam de vender vinhaça daquela região...e será que para além do vinho, Borba ficaria marcada no meu destino como o local do meu óbito? Numa ultrapassagem desastrosa, a minha mãe atirou-se para cima de um camião para evitar uma colisão frontal, e só não resvalamos para um terreno de couves, porque Deus, a existir, achou que desportos radicais não eram efetivamente a minha praia. Enquanto via a vida passar-me pela memória qual "curta-metragem" de qualidade duvidosa, só pensava, «eu não posso morrer virgem»...e talvez esse argumento tenha convencido o Divino que colocou na minha vida um namorado de se lhe tirar o chapeu. Não era lindo de morrer como Damen, que Nöel criou à medida da amargurada Ever, mas à sua maneira salvou-me de um fim prematuro e nada glamoroso. Não gostaria nada de ter sido primeira página do Correio da Manhã “Acidente ceifa vida a adolescente num quintal alheio em Borba"...NOT COOL!
Inspirada na Saga «Os Imortais» de Alyson Nöel